domingo, 4 de março de 2012

Amor e Caridade



Irmãos, nessa leitura vocês obterão um grande aprendizado. Simplesmente profunda e tocante!

Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu espírito. Amarás teu próximo como a ti mesmo. Nesses dois mandamentos se resumem toda Lei e os profetas” Mt 22, 37-40.

Amar a Deus e ao próximo, quem faz isso cumpre toda a Lei, pratica toda a Vontade de Deus. São Paulo é quem o diz: “... Aquele que ama o seu próximo cumpriu toda a lei” Rm 13,8.

Este Amor-Caridade é o mais excelente dos dons do Espírito, eis o que escreve o Apóstolo São Paulo: “Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver Caridade, de nada valeria!... Por ora subsistem a fé, a esperança e a Caridade - as três. Porém, a maior delas é a Caridade” 1 Cor, 13, 3. 13.

O amor que aqui falamos não é simplesmente o amor físico, do toque, do beijo, do abraço, da presença, da relação e nem somente o amor de amizade, mas sim o amor chamado Ágape, o amor de doação, de entrega. Amor como do próprio Deus por nós, que se sacrifica por nós na Cruz, na Eucaristia. Amor que dá sem calcular, amor que se entrega só pela generosidade de dar-se.

A doutrina da Igreja tem uma definição clara para este Amor-Caridade: “A Caridade é uma virtude teologal sobrenatural infusa pelo Espírito Santo na alma que foi batizada, virtude esta que nos faz amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos por causa de Deus”.

A Caridade é uma virtude, ou seja, um hábito é algo permanente, não transitório nem ocasional. Mas não um hábito praticado, que começou a existir por um costume, pois a Caridade é um dom sobrenatural, vem de Deus e não de esforços humanos. Essa virtude nos faz amar a Deus em primeiro lugar, sobre todas as coisas e ao próximo sempre por causa de Deus, pois se amamos o próximo por causa dele mesmo, podemos nos decepcionar quando ele nos trair ou for ingrato conosco.

Santo Tomás de Aquino, grande teólogo e sacerdote do século XIII, tem um comentário sobre os dois preceitos da Caridade. Santo Tomás indica quatro elementos para que possamos observar bem este preceito: 
  • Primeiro: considerar os bens que recebemos de Deus: “Muito ingrato seria o homem, que, consciente de ter sido beneficiado, não amasse seu benfeitor” Comentário sobre os dois preceitos da Caridade e aos dez mandamentos. 
  • Segundo: é reconhecer a suprema superioridade de Deus, por mais que façamos, faremos sempre menos do que Ele merece, mas devemos mesmo assim continuar exaltando-O. 
  • Terceiro: temos que renunciar a prioridade dada aos bens terrenos, é uma injúria colocar Deus abaixo das suas criaturas, recorda o Santo. Santo Tomás assim afirma: “Quando no teu coração colocas qualquer outra coisa no lugar de Deus, é a Ele que tu afastas. Ele não tolera encontrar na alma qualquer coisa ou qualquer um que lhe faça concorrência, nisso Deus se assemelha a um esposo que não admite outros amantes junto à própria esposa. Ele mesmo o diz: ‘Eu, o Senhor teu Deus, sou um Deus ciumento’”. 
  • Quarto elemento para o amor perfeito a Deus é a fuga do pecado. Nesse sentido, Santo Tomás ensina que vão contra este preceito de amar a Deus dois tipos de seres humanos: primeiro, o homem que abandona um pecado e acaba substituindo-o por outro, e segundo, o homem que confessa metade dos pecados a um confessor e a outro confessa os outros pecados, escondendo de um sacerdote os seus pecados, o Santo comenta: “Pecam tais pessoas, porque querendo enganar a Deus mostram pouca reverência em relação à coisa tão sagrada. É quase um sacrilégio esperar de Deus um perdão pela metade; na confissão revela-te por inteiro, sem reservas”. 



Santo Tomás ainda ensina como amar ao próximo como a si mesmo, apontando os seguintes motivos: Primeiro, o expresso desejo do Senhor: ‘nisto reconhecerão que vós sois os meus discípulos, se vos amardes uns aos outros’ (Jo 13, 35). Ele não diz: ‘acreditarão em vós quando ressuscitardes um morto’, ou ‘quando realizardes outros grandes prodígios’; não! A demonstração mais evidente de sermos discípulos de Jesus, será só esta: ‘se vos amardes uns aos outros’...”.

Segundo motivo para amarmos o próximo, é porque como humanos somos da mesma natureza. Terceiro, porque a Caridade nos une como cristãos “na mais ampla comunhão de tudo aquilo que é bom.” 

Santo Tomás ainda afirma que é falso o amor ao próximo que se baseia ou no interesse ou no prazer. O verdadeiro amor ao próximo é  buscarmos o bem do próximo. Feitas estas considerações do grande Doutor da Igreja, Santo Tomás de Aquino, é importante dizer que há uma ligação indissolúvel entre o amor de Deus e o amor ao próximo.

Amamos o próximo porque nele vemos Deus. Se amamos a Deus devemos demonstrá-lo no amor ao próximo, como bem indica São João em sua carta: “Se alguém disser: amo a Deus, mas odeia seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não se vê.” 1 Jo 4, 20. E também se amamos o próximo, devemos amá-lo por causa do nosso amor a Deus; amamos o próximo porque vemos Deus nele.

Se emprestardes dinheiro a alguém do meu povo, ao pobre, que está contigo, não lhe será como um credor: não lhe exigirás juros. Se tomares como penhor o manto do teu próximo, devolver-lho-ás antes do pôr do sol” Ex 22, 25-26.

O nosso amor ao próximo também nos dias atuais exige-nos atitudes concretas. Hoje meditemos como devemos expressar o nosso amor ao próximo: talvez seja aconselhando um irmão, ou corrigindo-o por amor, ou dando-lhe um sorriso para animá-lo, ou perdoá-lo em algo que ele nos ofendeu, ou suportando seu temperamento difícil, como muitos têm que suportar nosso temperamento.

Amar ao próximo como a si mesmo significa amá-lo nem na proporção de Deus e nem menos do que nos amamos, ou seja, amá-lo na justa medida. 

Este amor ao próximo e a Deus é a garantia de nossa entrada no Paraíso; o tão citado Santo Tomás nos diz: “A Caridade já é um começo de vida eterna e a vida eterna há de constituir-se em um ato ininterrupto de Caridade” Suma Teológica, I-II q. 114, a.4.

Santo Tomás de Aquino: " Que a Virgem Maria, Mãe e modelo da Caridade, ensine-nos a amar no próximo o próprio Deus e Deus acima de todas as coisas, para que sejamos felizes nesta vida e conjunta e eternamente felizes na vida eterna."

Fonte: Padre César Silva Rossi

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